“Desde o passado contribuímos para a formação da sociedade atual, pois muitos brancos possuem hábitos que pertenciam aos nossos antepassados”

terça-feira, 27 de março de 2012

Alex e  Valéria , estudantes da UEM
     Aluna da universidade estadual de Maringá, Valéria, 34 anos, casada, originaria da aldeia das Laranjinhas, está atualmente cursando o 2º ano de medicina através da lei federal que inclui os indígenas no sistema de cotas. Atualmente a índia Guarani já estaria finalizando o curso, pois realizou quatro anos na UEL, porém ao vir para a UEM, seu currículo não foi aceito e ela precisou reiniciar o seu curso na nova universidade.
Alex, de 36 anos, é originário da aldeia Pinhalzinho, atualmente está cursando pela segunda vez o primeiro ano de administração na UEM. O índio guarani com a esposa Valéria estão morando provisoriamente na ASSINDI (Associação Indigenista de Maringá).



Na sua tribo todos foram a favor da sua vinda para estudar? O que te motivou a escolher Maringá?
 Valéria: Apesar de sermos de tribos diferentes nós recebemos apoio de nossos caciques, pajés e de nossas famílias para vim estudar em Maringá.
Alex: O que motivou foi saber da existência da ASSINDI e todo o apoio que ela oferecia. Além no meu interesse em fazer administração.

 O que te motivou a entrar na faculdade? Foi pela necessidade da sua tribo?
Valéria: O que me motivou foi gostar do curso e pela possibilidade de ajudar minha tribo futuramente. Uma vez que quando eu me formar poderei fazer melhorias e agilizar o atendimento na aldeia.

O que você acha das cotas para entrar na UEM?
Valéria: Em minha opinião as cotas é um direito nosso, uma vez que o estudo na tribo é defasado, assim não podemos competir com quem tem uma condição melhor de estudo, por isso fazemos uma prova com conteúdo diferenciado do vestibular tradicional.

E sua família, vocês ainda tem contato? Você tem “irmãos” que também pretendem fazer alguma universidade?
Alex: Em todo momento oportuno visito meus familiares, mas com a faculdade não temos tanto tempo disponível. A maioria dos jovens da minha aldeia pretende fazer uma faculdade, porém são poucas as vagas de cotas indigenistas.

 Vocês devem fazer faculdade e voltar para tribo para exercer sua profissão?
 Alex: Não necessariamente devemos voltar para a aldeia, mas temos muita saudade de nossos familiares e queremos ajudar a melhorar a situação da nossa tribo, já que sabemos as dificuldades que enfrentam.

Você acha que os índios contribuíram para a formação da sociedade atual?
Valéria: Desde o passado contribuímos para formação da sociedade atual, pois muitos brancos possuem hábitos que pertenciam aos nossos antepassados. Como por exemplo a farofa de mandioca e a capoeira que estão na sociedade brasileira.

Quais as dificuldades encontradas na hora de realizar o curso?
Valéria: Minhas maiores dificuldades foram pedagógicas, o vocabulário e a questão financeira para podermos comprar livros, os quais são muito caros, chegando a custar até um salário mínimo. Além disso, alguns professores na UEM não nos aceitam, descriminam, apontam como cotistas.

A cultura (dança, música, linguagem ) são as mesmas dos seus antepassados? Houve muitas mudanças, como a influência do homem branco?
Alex: Quanto à cultura tentamos preservar ao máximo, porém não é possível com a influência do homem branco. Na dança acrescentamos instrumentos do homem branco como o violão, mas ainda preservamos a dança dos nossos antepassados. Nas aldeias as escolas tem como língua oficial o português e aprendem o guarani como uma segunda língua. Posso citar um exemplo de uma criança daqui da ASSINDI, que disse querer comprar um pendrive sem ao menos saber o que é.

A ajuda do governo é suficiente para vocês se manterem?
Valéria: Apesar de toda a ajuda do governo não é suficiente para pagar as despesas básicas, sendo assim alguns de nós tem que ir às ruas vender artesanatos. Além de algumas outras dificuldades, como: falta de espaço na ASSINDI (junção do Guarani com o Kaingang) e o preconceito na universidade (professores e alunos).

Por:  Loizze Naldi, Janine Pinheiro e Yedda Maria

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