Alex e
Valéria , estudantes da UEM
Aluna da universidade estadual de Maringá,
Valéria, 34 anos, casada, originaria da aldeia das Laranjinhas, está atualmente
cursando o 2º ano de medicina através da lei federal que inclui os indígenas no
sistema de cotas. Atualmente a índia Guarani já estaria finalizando o curso, pois
realizou quatro anos na UEL, porém ao vir para a UEM, seu currículo não foi
aceito e ela precisou reiniciar o seu curso na nova universidade.
Alex,
de 36 anos, é originário da aldeia Pinhalzinho, atualmente está cursando pela
segunda vez o primeiro ano de administração na UEM. O índio guarani com a
esposa Valéria estão morando provisoriamente na ASSINDI (Associação Indigenista
de Maringá).
Na sua tribo todos foram a favor da sua
vinda para estudar? O que te motivou a escolher Maringá?
Valéria: Apesar de sermos de tribos diferentes
nós recebemos apoio de nossos caciques, pajés e de nossas famílias para vim
estudar em Maringá.
Alex: O que motivou foi saber da existência da ASSINDI e todo o
apoio que ela oferecia. Além no meu interesse em fazer administração.
O que te motivou a entrar na
faculdade? Foi pela necessidade da sua tribo?
Valéria: O que me motivou foi gostar do curso e pela possibilidade
de ajudar minha tribo futuramente. Uma vez que quando eu me formar poderei
fazer melhorias e agilizar o atendimento na aldeia.
O que você acha das cotas para entrar na
UEM?
Valéria: Em minha opinião as cotas é um direito nosso, uma vez que
o estudo na tribo é defasado, assim não podemos competir com quem tem uma
condição melhor de estudo, por isso fazemos uma prova com conteúdo diferenciado
do vestibular tradicional.
E sua família, vocês ainda tem contato?
Você tem “irmãos” que também pretendem fazer alguma universidade?
Alex: Em todo momento oportuno visito meus familiares, mas com
a faculdade não temos tanto tempo disponível. A maioria dos jovens da minha
aldeia pretende fazer uma faculdade, porém são poucas as vagas de cotas
indigenistas.
Vocês devem fazer faculdade e voltar
para tribo para exercer sua profissão?
Alex: Não necessariamente devemos voltar para
a aldeia, mas temos muita saudade de nossos familiares e queremos ajudar a
melhorar a situação da nossa tribo, já que sabemos as dificuldades que
enfrentam.
Você acha que os índios contribuíram para
a formação da sociedade atual?
Valéria: Desde o passado contribuímos para formação
da sociedade atual, pois muitos brancos possuem hábitos que pertenciam aos
nossos antepassados. Como por exemplo a farofa de mandioca e a capoeira que
estão na sociedade brasileira.
Quais as dificuldades encontradas na hora
de realizar o curso?
Valéria: Minhas maiores dificuldades foram
pedagógicas, o vocabulário e a questão financeira para podermos comprar livros,
os quais são muito caros, chegando a custar até um salário mínimo. Além disso,
alguns professores na UEM não nos aceitam, descriminam, apontam como
cotistas.
A cultura (dança, música, linguagem ) são
as mesmas dos seus antepassados? Houve muitas mudanças, como a influência do
homem branco?
Alex: Quanto à cultura tentamos preservar ao
máximo, porém não é possível com a influência do homem branco. Na dança
acrescentamos instrumentos do homem branco como o violão, mas ainda preservamos
a dança dos nossos antepassados. Nas aldeias as escolas tem como língua oficial
o português e aprendem o guarani como uma segunda língua. Posso citar um
exemplo de uma criança daqui da ASSINDI, que disse querer comprar um pendrive sem ao menos saber o que é.
A ajuda do governo é suficiente para vocês
se manterem?
Valéria: Apesar de toda a ajuda do governo não é
suficiente para pagar as despesas básicas, sendo assim alguns de nós tem que ir
às ruas vender artesanatos. Além de algumas outras dificuldades, como: falta de
espaço na ASSINDI (junção do Guarani com o Kaingang) e o preconceito na
universidade (professores e alunos).